Jean-Nicolas Arthur Rimbaud (Charleville, 20 de outubro de 1854 — Marselha, 10 de novembro de 1891) foi um poeta simbolista francês,[1] parte do movimento decadente, que produziu suas obras mais famosas quando ainda era adolescente, influenciando imensamente a arte moderna. Era conhecido por sua fama de libertino e por uma alma inquieta, viajando de forma intensiva por três continentes antes de morrer de um câncer aos 37 anos de idade.
Manhã
Não tive eu uma vez uma juventude amável, heroica, fabulosa, para ser escrita em folhas de ouro, – sorte a valer! Por que crime, por que erro, mereci a fraqueza atual? Vós que achais que animais dão soluços de dor, que doentes desesperam, que mortos tem pesadelos, tratai de narrar minha queda e meu sono. Quanto a mim, posso explicar-me tanto quanto o mendigo com os seus contínuos Pater e Ave Maria. Não sei mais falar!
Contudo, creio ter terminado hoje a narração de minha temporada no inferno. Era realmente o inferno: o antigo aquele cujas portas o filho do homem abriu.
No mesmo deserto, à mesma noite, meus olhos cansados sempre despertam sob a estrela de prata, sempre, sem que se emocionem os Reis da vida, os três magos, o coração, a alma, o espírito. Quando iremos, além das praias e dos montes, saudar o nascimento do trabalho novo, a sabedoria nova, a fuga dos tiranos e dos demônios, o fim da superstição, adorar – os primeiros! – os primeiros! – o Natal sobre a terra?
O canto dos céus, a marcha dos povos! Escravos, não amaldiçoemos a vida.
(tradução de Lêdo Ivo)
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